Aprova o documento denominado “Carta Compromisso do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil sobre a Nova Agenda Urbana” e dá outras providências.
O PLENÁRIO DO CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO DO BRASIL – CAU/BR, no exercício das competências e prerrogativas de que trata a Seção I, artigo 9º do Regimento Geral do CAU/BR, reunido ordinariamente em Brasília-DF, no dia 23 de setembro de 2016, após análise do assunto em epígrafe;
Considerando a realização do I Seminário Nacional de Política Urbana e Ambiental, nos dias 12 e 13 de abril de 2016, no qual se definiu a produção de três documentos finais do Seminário dirigidos: aos (às) candidatos (as) a prefeitos (as), à Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável – HABITAT III e à sociedade;
Considerando a leitura do documento em questão na 55ª Reunião Plenária Ordinária do CAU/BR, em 16 de junho de 2016 e posterior envio aos CAU/UF para coleta de contribuições (Ofício Circular nº 034/2016-PR);
Considerando a DELIBERAÇÃO Nº 21/2016 – CPUA que definiu o cronograma para redação final e aprovação destes documentos, incluindo a redação final do documento à Habitat III no III Seminário Nacional de Política Urbana e Ambiental e no II ArqAmazônia realizado entre os dias 14 a 17 de setembro de 2016, em Manaus;
Considerando a realização do III Seminário Nacional de Política Urbana e Ambiental nos dias 14 e 15 de setembro de 2016, em parceria com o Fórum de Presidentes do CAU, no qual foram analisadas as contribuições recebidas e finalizada a redação do referido documento;
Considerando a importância da Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável – HABITAT III, a ser realizada em Quito, Equador, em outubro de 2016, na construção da Nova Agenda Urbana Mundial para os próximos 20 anos, a favor do desenvolvimento urbano sustentável, da busca de soluções à questão da pobreza e da identificação de novos desafios urbanos;
Considerando a DPOBR Nº 0056-12/2016 que deliberou designar o Coordenador da CRI-CAU/BR, Fernando Diniz Moreira e a Coordenadora da CPUA-CAU/BR, Maria Eliana Jubé Ribeiro, para representar o CAU/BR na Terceira Conferência da ONU sobre Moradia e Desenvolvimento Sustentável – Habitat III; e
Considerando que é finalidade do CAU/BR pugnar pelo aperfeiçoamento do exercício da profissão, visando a melhoria da qualidade de vida, a defesa do meio ambiente e a preservação do patrimônio cultural do País, zelando pelo planejamento e a gestão do território.
DELIBEROU:
Com 23 votos favoráveis: dos conselheiros Anderson Amaro Lopes de Almeida, Heitor Antônio Maia da Silva Dores, Claudemir José de Andrade, José Alberto Tostes, Hugo Seguchi, Anderson Fioreti de Menezes, Maria Eliana Jubé Ribeiro, Maria Laís da Cunha Pereira, Celso Costa, Ana de Cássia M. Abdalla Bernardino, Mariano de Jesus Farias Conceição, Hélio Cavalcanti da Costa Lima, Wellington Carvalho Camarço, Manoel de Oliveira Filho, Luiz Fernando Donadio Janot, Fernando José de Medeiros Costa, Roseana de Almeida Vasconcelos, Luiz Afonso Maciel de Melo, Gislaine Vargas Saibro, Ronaldo Lima, Marcelo Augusto Costa Maciel, Renato Luiz Martins Nunes, Luís Hildebrando Ferreira Paz; e 04 ausências: dos conselheiros Napoleão Ferreira da Silva Neto, Maria Elisa Baptista, Risale Neves Almeida e José Roberto Geraldine Júnior.
Brasília, 23 de setembro de 2016.
HAROLDO PINHEIRO VILLAR DE QUEIROZ
Presidente do CAU/BR
Folha de Votação
UF | Conselheiro | Votação | |||
Sim | Não | Abstenção | Ausência | ||
AC | Anderson Amaro Lopes de Almeida | X | |||
AL | Heitor Antônio Maia da Silva Dores | X | |||
AM | Claudemir José de Andrade | X | |||
AP | José Alberto Tostes | X | |||
BA | Hugo Seguchi | X | |||
CE | Napoleão Ferreira da Silva Neto | X | |||
DF | Haroldo Pinheiro Villar de Queiroz | – | – | – | – |
ES | Anderson Fioreti de Menezes | X | |||
GO | Maria Eliana Jubé Ribeiro | X | |||
MA | Maria Laís da Cunha Pereira | X | |||
MG | Maria Elisa Baptista | X | |||
MS | Celso Costa | X | |||
MT | Ana de Cássia M. Abdalla Bernardino | X | |||
PA | Mariano de Jesus Farias Conceição | X | |||
PB | Hélio Cavalcanti da Costa Lima | X | |||
PE | Risale Neves Almeida | X | |||
PI | Wellington Carvalho Camarço | X | |||
PR | Manoel de Oliveira Filho | X | |||
RJ | Luiz Fernando Donadio Janot | X | |||
RN | Fernando José de Medeiros Costa | X | |||
RO | Roseana de Almeida Vasconcelos | X | |||
RR | Luiz Afonso Maciel de Melo | X | |||
RS | Gislaine Vargas Saibro | X | |||
SC | Ronaldo Lima | X | |||
SE | Marcelo Augusto Costa Maciel | X | |||
SP | Renato Luiz Martins Nunes | X | |||
TO | Luis Hildebrando Ferreira Paz | X | |||
IES | José Roberto Geraldine Júnior | X |
Histórico da votação:
Sessão Plenária nº: 58ª Plenária Ordinária Data: 23/09/2016 Matéria em votação: 6.11. Leitura e aprovação da Carta à III Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável – Habitat III. Resultado da votação: Sim (23) Não (00) Abstenções (00) Ausências (04) Total (27) Ocorrências: Secretário da Sessão: Presidente da Sessão: |
ANEXO
CARTA COMPROMISSO DO CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO DO BRASIL SOBRE A ‘NOVA AGENDA URBANA’
Ao compartilhar com a UN Habitat da visão de que as cidades devem ser para todos e, nesse sentido, sustentáveis nas dimensões econômica, social e ambiental, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, que reúne 140 mil profissionais, com sedes em todas as 27 Unidades Federativas, manifesta integral apoio à Nova Agenda Urbana da Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável – Habitat III, a ser realizada em Quito, Equador, em outubro de 2016, e se prontifica a colaborar vigorosamente em sua implementação em nosso país.
As cidades não podem ser vistas como espaços isolados no território de uma nação e tampouco devem ter seus problemas analisados e geridos de forma compartimentada em diferentes setores. A cidade é um todo.
A visão do território, casada com seu planejamento, é fundamental para a conquista de um Projeto de Cidade sustentável no século XXI.
A transformação, sob o ponto de vista do planejamento urbano, impõe que Arquitetura e Urbanismo para Todos, missão de nosso Conselho, avance da dimensão abstrata para a dimensão estrutural da cidade. Caminhamos nesse rumo.
A cidade é o suporte físico para o desenvolvimento econômico e social. Nesse contexto, o planejamento deve se antecipar aos problemas com uma visão de longo prazo. Sua inexistência é uma condenação às futuras gerações.
Não se trata de uma questão meramente técnica. São essenciais vontade política, participação popular e cultura cidadã. A partir desse tripé, se configura uma agenda política da cidade que é elaborada pelo cidadão concomitantemente com os conhecimentos transdisciplinares.
O papel do planejamento urbano, especificamente, é interpretar e revelar necessidades e vontades das comunidades, inclusive capacitando-as na identificação dos problemas e na seleção das prioridades, materializando-as em diagnósticos, planos e projetos transformadores do lugar, de forma integrada com a cidade e sua região como um todo.
As políticas públicas devem entender e atender as demandas da cidade em um processo contínuo. Nesse sentido, a governança urbana comprometida com uma visão de futuro transformador é indispensável. Sem ela, não haverá condições de se implementar o planejamento urbano inovador.
Esses dois pontos são os paradigmas do Projeto de Cidade que precisamos.
Apenas com o monitoramento cidadão intensivo e sistemático de ambos os paradigmas o objetivo comum será alcançado. O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil estimulará e se engajará nesse monitoramento. É o nosso compromisso perante a Nova Agenda Urbana.
A REDE URBANA DO BRASIL – Em 1950, apenas 35% da população brasileira vivia em cidades. Hoje o percentual chega a 85%. As projeções indicam a desaceleração do ritmo de urbanização nos grandes centros, o que não deve ser motivo para inércia. Há novas fronteiras em criação impulsionadas pelo setor agropecuário. E há sobretudo muito o que se fazer para abrandar os sérios paradoxos que marcaram a acelerada transição do território de um pais de dimensão continental de rural para um dos mais urbanizados do mundo.
O CAU vê a cidade brasileira, para o momento, sob três categorias morfológicas e observa o desafio da governança urbana e do planejamento urbano segundo essas tipologias:
Considerando as diversidades socioeconômicas dessas categorias de cidades, algumas características são comuns, diferenciando-se apenas nas dimensões:
Este processo é, em grande parte, fruto do desmantelamento do planejamento urbano ocorrido no Brasil nas últimas décadas nas três esferas administrativas. Em oposição a esse cenário, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, defende um pacto pela qualidade da cidade, em consonância com a Nova Agenda Urbana proposta pela Habitat III, baseado em instrumentos políticos de gestão pública transparentes e inclusivos:
GOVERNANÇA URBANA – Metade da população brasileira mora em metrópoles ou grandes cidades. Elas constituem um grupo de apenas 25 aglomerados urbanos e são responsáveis pela geração de mais de 60 por cento do produto interno bruto da nação. Por outro lado, mais da metade do território é ocupado por médias e pequenas cidades. São dois universos desiguais que nos impõe desafios e ações de governança distintos.
O Brasil possui hoje 70 regiões metropolitanas criadas pela União ou pelos Estados, sendo que as 12 mais importantes abrigam 34% da população brasileira. Apesar dessa concentração demográfica, de sua riqueza econômica, dos preocupantes indicadores ambientais, do caldeirão de diversidade social, da relevância cultural, e de representarem o mais influente contingente político do país, essas metrópoles são uma abstração institucional e a gestão municipal existente não consegue lidar com esta complexidade. São regiões sem governo próprio, sem parlamento, sem realidade fiscal, sem representatividade política, sem orçamento próprio, sem serviços urbanos e sem planejamento legítimo.
É urgente a instituição de uma governança envolvendo estados e municípios metropolitanos, como previsto no Estatuto da Metrópole, integrando as diversas políticas setoriais e ações (mobilidade, abastecimento d’água, educação, saúde, economia, biodiversidade, energia e resíduos sólidos).
É preciso, igualmente, uma integração consorciada entre os municípios que viabilize a questão da governança metropolitana possibilitando o desenvolvimento de planos e ações estratégicas comuns.
A recomendação de governança interfederativa impõe aos gestores das cidades situadas em regiões metropolitanas o compromisso de desenvolver o projeto conjunto de governança, observando rigorosamente os prazos estabelecidos em lei.
A criação da governança viabiliza a metrópole e sobretudo o seu planejamento como oportunidade de desenvolvimento e organização equilibrada de atividades. Nesse sentido, a metrópole deve ter seu Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI).
Por outro lado, as cidades que gravitam em torno das metrópoles necessitam de Plano de Desenvolvimento Urbano integrados ao PDUI, na dimensão da cidade, do bairro, da quadra, da rua e do lote.
Já as cidades médias e pequenas restritas ao território municipal devem ter Planos Urbanísticos, como exigidos pelo Estatuto das Cidades, na dimensão da cidade, do bairro, da quadra, da rua e do lote. No entanto, esses lugares caracterizam-se por estruturas administrativas e orçamentos frágeis, a ponto de, em 2013, os municípios com menos de 100 mil habitantes terem recebido transferências da União ou dos Estados da ordem de 87% de sua despesa total. Uma das consequências é a impossibilidade de disporem de quadros capacitados para elaborar os documentos técnicos que justamente viabilizariam a captação de recursos, inclusive de organismos internacionais.
PLANEJAMENTO URBANO – Nesta lógica, cada território urbano necessita de diagnósticos, planos e projetos específicos integrados e integradores.
Os projetos setoriais devem romper a lógica da compartimentação das políticas públicas, adotando uma visão integradora de Sociedade, economia e meio ambiente. Nesse sentido devem:
MONITORAMENTO CIDADÃO – A governança da metrópole, das cidades metropolitanas e das médias e pequenas cidades restritas ao território municipal deve ter o compromisso político de implantar os instrumentos de planejamento. Tais governanças precisam se qualificar tecnicamente para monitorar a execução dos planos. Os planos urbanísticos devem prever indicadores de qualidade de vida urbana conectados com a realidade física.
Neste sentido, é necessário:
A governança urbana cidadã e o planejamento urbano qualificado rigorosamente monitorados pela Sociedade são essenciais para implementação das diferentes ações que viabilizem o Projeto de Cidade dentro da premissa de Arquitetura e Urbanismo para Todos.
Este é o pacto pela qualidade da cidade que o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil propõe aos gestores públicos e à Sociedade, em alinhamento com a Nova Agenda Urbana coordenada pela UN Habitat.
Com ele, a Sociedade tem em mãos parâmetros para orientar suas reivindicações por um Projeto de Cidade do século XXI, sob medida, mais dignas e justas, na perspectiva de uma gestão democrática comprometida com o desenvolvimento urbano e humano, com a garantia da continuidade de planos, projetos e ações sem a demarcação do calendário eleitoral.
Esta Carta Compromisso reflete o caminhar do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil em seus quatro anos e meio de existência. Entre as ações mais recentes estão a promoção, em 2015, do “Urban Thinkers Campus Recife” pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco. Em 2016 uma parceria inovadora estabelecida entre a Comissão de Política Urbana e Ambiental do CAU/BR, a Comissão de Relações Internacionais do CAU/BR e o Fórum de Presidentes do CAU resultou em três seminários, com participação de especialistas nacionais e estrangeiros, jornalistas, Universidades e organismos como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Caixa Econômica Federal, o Ministério das Cidades, o Ministério do Meio Ambiente, a Frente Nacional dos Prefeitos, a Confederação Nacional dos Municípios, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a Secretaria das Nações Unidas do Habitat III para América Latina e Caribe, entre outros.
O documento foi concluído no III Seminário Nacional de Política Urbana e Ambiental realizado em Manaus, no Amazonas, em setembro de 2016, dentro do II Congresso Internacional de Arquitetura e Sustentabilidade na Amazônia (ArqAmazônia).
HAROLDO PINHEIRO VILLAR DE QUEIROZ
Presidente do CAU/BR
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